sábado, 21 de julho de 2012

Unidos de Santa Bárbara


Unidos de Santa Bárbara

Reflexões sobre o casal de Mestre Sala , Porta Bandeira e Porta Estandarte
Historicamente a dança do Mestre Sala  e da Porta Bandeira é sem dúvida formada na época da escravidão do povo africano. Onde se uniram as danças dos ritos e rituais aos orixás(pois é indiscutivelmente a dança característica desta etnia) pela apreciação dos negros escravos pela dança da corte européia, que analisavam cuidadosamente(quando podiam) os passos dos nobres, que bailavam ao som do Minueto, e após, na senzala, esses negros repetiam, de sua forma a dança vista na casa grande, caricata, pois diferente dos seus senhores e senhoras, não praticavam nem freqüentavam as aulas de dança, para os famosos saraus. 
No século XVIII, os saraus na corte e Luiz XV dão o exemplo de classe e graça das danças francesas. Mais adiante os saraus em terras brasileiras ganham expectadores muito atentos que, da senzala, apreciam os gestos feitos pelo mestre de cerimônias na abertura dos salões e condução dos casais. A seguir montam sua própria roda de dança e jocosamente, refletem todo o gestual, numa caricatura da corte. Por conseguinte as vestimentas do Mestre Sala e da Porta Bandeira se inspira na indumentária da época. E os passos do casal jamais lembra o samba, mas a aristocrática dança dos salões. 

Até o início dos anos 30, a porta bandeira precisava de proteção, sendo a personagem mais visada nas disputas entre as Escola de Samba, por estar na guarda do pavilhão, galhardão maior. Um Mestre Sala  de uma escola rival, com uma navalha tentava se aproximar da Porta Bandeira para retalhar a bandeira ou o estandarte. A partir daí, os sambistas passaram a confeccionar tanto a camisa do Mestre Sala  quanto a bandeira em cetim ou seda dificultando o corte. A partir de então a luta passou a ser simbolizada: um Mestre Sala  tomava a mão da Porta Bandeira da escola adversária. Ela seguia dançando até a sede do vencedor, obrigando o seu Mestre Sala a acompanha-la para uma resgate amigável.
Esta história vem desde os primórdios das escolas de samba, quando estas eram chamadas de ranchos carnavalescos, e a dupla era conhecida por baliza e porta estandarte.
O baliza, hoje Mestre Sala , tinha a incumbência de defender sua companheira e o estandarte por ela carregado, uma vez que esta peça corria o risco de ser arrebatada por componentes de outros grupos desfilantes rivais.
O “roubo” ocorria, normalmente, no clima da euforia momesca, quando as agremiações se apresentavam e os Mestre Salas, desenvolvendo o bailado se descuidavam da proteção da Porta Bandeira.
As Porta Estandartes, hoje Porta Bandeiras, contavam ainda com outro tipo de proteção(os chamados porta machados), exercidas por garotos que ficavam ladeando a “protegida”. A garotada foi aos poucos sendo substituída nas escolas de samba pelas chamadas “bainas-de-linha”, na verdade homens fantasiados de baiana, com navalhas presas às pernas, que ficavam nas laterais das escolas exercendo a função de protetores.
A partir da oficialização das Escolas de Samba, o Mestre Sala e a Porta Bandeira tornaram-se os principais personagens da escola que defendem.
Ramon Carvalho

Há estudos mais profundos sobre o assunto, para entendermos a importância de tanta simbologia, o pesquisador Ilclemar Nunes no “ESTUDO DE MESTRE SALA E PORTA BANDEIRA, MANEIOS E MESURAS”, foi buscar as origens da dança da dupla, no ritual praticado pelas meninas moças africanas, quando da preparação para o casamento e nos atos dos rapazes guerreiros, que se apresentavam como candidatos à disputa das moças, dançando.
Pesquisas outras consideram que as porta estandartes dos ranchos carnavalescos teriam raízes bem mais remotas, pois, no tempo da colônia, os escravos conseguiam identificar as tribos africanas de outros grupos, durante festas populares ou durante sepultamento de negros importantes, que por meio de pedaços de pau, ao qual aqueles negros prendiam fragmentos de pano com cores representativas (bandeira).
Nos cortejos da Rainha e do Rei do Congo, um negro sem camisa e descalço carregava um mastro com um pano colorido na ponta, era o Porta Estandarte do cortejo real.
Nas festas do Imperador do Divino, que se apresentava nos domingos de Páscoa , o Imperador eleito saia pelas ruas com uma corte numerosa tendo a frente o "Alferes da Bandeira" carregando o pavilhão do Divino, e o estandarte era respeitosamente beijado, como fazemos hoje com as bandeiras das Escolas de Samba assim como em toda manifestação sócio cultural do negro estava presente o porta-bandeira. Acreditamos que este seja os primórdios dos atuais Mestre-Sala e Porta-Bandeira.
Os Blocos e os Ranchos desfilavam com Porta Estandarte e Baliza que tinha que dançar e ficar atento a qualquer movimento, já que qualquer distração poderia ser fatal e terminar com sua carreira. Perder a porta Estandarte e o Pavilhão para o Baliza da agremiação rival, era a maior humilhação, o pavilhão só seria recuperado no ano seguinte quando tinha que ir buscar no local de ensaio do bloco realizador da façanha, via de regra nestas ocasiões o pau comia solto aos gritos de "Enrola o pano" ou seja enrola o Pavilhão.
O saudoso Juvenal Lopes que foi meu Presidente na Mangueira, era no início da década de 30, o Baliza da Deixa falar.
Segundo depoimento de Cartola e Carlos Cachaça, foi o velho Maçu quem introduziu e primeiro desfilou como Mestre-Sala nas Escolas de Samba, aprendeu com o famoso Hilário Jovino Ferreira, o Laiu de Ouro, com o Getúlio Marinho e Teodoro, ases na coreografia elegante, cheia de arabescos com que conduziam a Porta-Estandarte. Com um lenço branco nas mãos ou um leque que os balizas usavam nos Ranchos e Blocos, e o Mestre-Sala incorporou, os personagens sugeriam figuras buscadas na Corte Real e a coreografia era sóbria de elegância e finura.
Perdemos muito desta raiz, embora alguns ainda mantenham a leveza de um bale, hoje as evoluções acrobáticas, a coreografia desenvolta compromete a elegância do Mestre-Sala e não é conduzente com o seu trajar.










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